O desconhecimento do próprio estado de saúde é o maior fator de risco para infarto ou morte súbita no exercício.
Faça uma busca com os termos “infarto” e “academia” no Google. Você vai ficar impressionado com o número de resultados. E perceber que várias pessoas que tiveram um infarto ou um mal súbito na academia são pessoas de idades variadas. Geralmente, esperamos que o infarto aconteça num homem, na casa dos 50 a 60 anos, que entrou na academia há pouco tempo… Então, por que as vítimas também são jovens, praticantes de exercício e, em alguns casos, atletas amadores? O que pode ser feito para evitar que você caia duro na musculação ou correndo na esteira?
O desconhecimento do próprio estado de saúde é o maior fator de risco para infarto ou morte súbita no exercício. Para você ver como pode acontecer com qualquer um, aconteceu há um mês com um colega médico, que trabalhava comigo. Saindo da academia, apresentou uma dor no peito, achou que era só incômodo. Por persistência da namorada, foi à emergência e eis que estava infartando. Ganhou uma angioplastia de presente aos 40 anos de idade.
A maioria das pessoas não procura um médico do esporte antes de começar a fazer exercícios. Por ser jovens, não ter sintomas, julgam desnecessário uma avaliação pré-participação. Nessas avaliações, o médico toma nota da história de saúde da pessoa e de sua família, faz o exame físico medindo a pressão, procura sopro no coração, alterações da circulação, da respiração e alterações da coluna e articulações.
Diante dessas informações, são solicitados exames complementares, sendo o eletrocardiograma o exame que todos deveriam fazer antes de começar a se exercitar, conforme a Sociedade Brasileira de Cardiologia e a Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte. Muitos médicos também solicitam o teste ergométrico, que faz uma avaliação dinâmica do coração durante o esforço, mostrando se existem alterações que podem levar ao infarto ou à morte súbita durante o exercício. Ao contrário do eletrocardiograma, o teste ergométrico não é obrigatório para quem não apresenta sintomas. Mas no caso de história familiar com casos de infarto ou angina, ou em pessoas que tenham dor no tórax ou no peito, ele deve ser solicitado para uma avaliação mais profunda.
Mesmo explicando isso tudo, você ainda se pergunta: “o que justifica mortes em pessoas tão jovens?”. Se o jovem não faz a avaliação, ele pode ter uma arritmia, um problema do coração desde seu nascimento ou um problema no sangue que pode levar à morte. Além disso, é muito comum o uso de anabolizantes nessa faixa etária. Eles usam sem necessidade, sem prescrição médica e compram de fontes desconhecidas. Os anabolizantes causam aumento da pressão, piora do colesterol, afetam os rins e o fígado e, do mesmo jeito que hipertrofia o bíceps, hipertrofia o coração. Um coração grande está associado com arritmias cardíacas graves e ao aumento do risco de infarto.
Também existem doenças mais raras relacionadas à morte súbita no exercício, como doenças genéticas e condições do sangue (como o traço falcêmico), fazendo a avaliação pré-participação uma ferramenta útil e necessária para diminuir o risco na prática de exercícios.
Ao contrário de muitos anos atrás, onde qualquer motivo afastava a pessoa do exercício, hoje, poucos motivos impedem a prática deles. É possível ter uma doença e se exercitar. A avaliação do médico especialista vai possibilitar o exercício dentro da capacidade funcional da pessoa. Nem todos vão poder correr uma maratona, ou fazer legpress com 200 quilos. Mas muitos vão poder caminhar, nadar e fazer musculação com segurança.
Quanto ao meu colega, ele, apesar de médico, nunca fez uma avaliação pré-participação. Quem sabe, ele não teria infartado tão jovem…
Matéria publicada Sidney Rezende
Retirado de http://www.educacaofisica.com.br/ciencia-ef/infarto-na-academia/
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